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Foto do escritorTiago Araripe

As voltas que o mundo dá

Atualizado: 26 de nov. de 2020


Concerto na Fábrica Braço de Prata. Lisboa, agosto de 2019.


As voltas que o mundo dá. Gosto da expressão. Alerta para a imprevisibilidade da vida. Da importância de sair dos lugares sem destruir pontes ou queimar navios. De manter portas abertas. Afinal, não se sabe o dia de amanhã. E prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, como bem diz a sabedoria popular e Jorge Ben Jor cantou.


Por que lembrei das voltas do mundo, camará? É uma história relacionada com a minha admiração pela diversidade cultural de Pernambuco. Admiração nascida e consolidada nos dois períodos em que morei no Recife: quando estudante, na fusão das décadas 1960 e 1970, e durante os nove anos em que fui diretor de criação da Link Pernambuco, agência que atendia o governo do estado à época de Eduardo Campos, a partir da segunda metade de 2009.


No Recife, o ambiente que antecedeu o Mangue Beat era um misto de ecos do Tropicalismo, de Woodstock e da contracultura, tudo isso junto e misturado em plena ditadura militar. Esse foi o incentivo que me fez entrar em cena com o coletivo Nuvem 33.

A cidade sempre me motivou ao trazer a singularidade dos ritmos pernambucanos, como frevos, caboclinhos, cirandas e maracatus. A efervescência musical que se seguiu (eu já estava em São Paulo àquela altura) trouxe Chico Science com o Nação Zumbi e colocou Pernambuco no mapa internacional da música.


Não por acaso, tenho dois álbuns nascidos no Recife: Baião de Nós, que resultou de um projeto selecionado pelo Funcultura e que produzi com Zeca Baleiro, e o EP Na Mala, Só a Viagem, premonitório da minha vinda ao Velho Mundo. Em ambos, a presença marcante do parceiro Juliano Holanda, multiinstrumentista, compositor, poeta, produtor musical e um dos artistas mais notáveis do atual cenário da cidade.


O que eu não imaginaria - e aqui retomo o tema das voltas que o mundo dá - é que Pernambuco permanecesse tão presentes no meu caminho musical.

Havia planos de procurar Walter Areia quando chegasse a Portugal. Ele morava há cerca de dois anos em Lisboa, com a família, e poderia me mostrar algo do caminho das pedras. Nossa proximidade - e o tenho na conta de um bom amigo - já vinha de bem antes, de quando dirigira e participara do show de lançamento do CD Baião de Nós. Com seu belo contrabaixo acústico de três cordas, havia colaborado também, então na distante capital lusitana, da música Perder Alguém, uma das faixas de que mais gosto de Na Mala, Só a Viagem.


Do nosso inesquecível encontro numa praça do Baixo Chiado resultou, meses depois, a gravação de Tudo no Lugar em Almada, no personalíssimo estúdio Ponto Zurca, onde há o piano acústico mais sonoro que conheço.


Mas, como cantou Johnny Alf em Eu e a Brisa e tem me valido de mote desde quando comecei a me preparar para atravessar o Atlântico, é importante estar pronto para "que o inesperado faça uma surpresa".


E uma nova surpresa se fez quando conheci Pablo Romeu em Lisboa. Havíamos marcado um encontro no Campo Pequeno, próximo a uma grande arena de touros. Ele vem de uma tradicional família de músicos pernambucanos, na qual o avô Getúlio Cavalcanti é festejado compositor popular, a mãe, Alessandra Loyo, é cantora e os irmãos têm fortes inclinações musicais. Sabia que tinha uma banda. Desconhecia, no entanto, o seu talento e a personalidade franca que facilitou a nossa aproximação.


Ele logo aceitou a proposta de montarmos um concerto e, no momento seguinte, já estávamos imersos nos ensaios - inicialmente num pequeno estúdio alugado em Almada, depois num casarão público de Lisboa, com diversas salas equipadas que eu podia alugar pagando apenas 3 Euros.



Momento de ensaio em Almada, com

Pedrinho Ribeiro, Pablo Romeu e Gabriel Carvalho.


Desse trabalho resultou um concerto na Fábrica Braço de Prata, centro multicultural instalado na antiga fábrica de munições em que se transformara, em época de guerra, um palácio de Lisboa. Além de muitas salas onde, antes da pandemia, aconteciam apresentações simultâneas de música, dança e teatro, há uma ampla biblioteca/livraria e livros espalhados por toda parte - inclusive nos corredores e banheiros.


Nossa apresentação se deu à meia-noite e meia de uma sexta feira de agosto, para um público heterogêneo e flutuante - há pessoas que gostam de trafegar pelas salas, pra se inteirar de tudo que acontece naquele espaço inusitado.



Véspera do primeiro show em Lisboa. (Foto: Ana Ruth)


A banda de Pablo Romeu merece um registro à parte. Com o nome de Caipirinha Society, seus três integrantes sobreviviam razoavelmente bem se apresentando nas ruas de Lisboa. Com Pablo na guitarra e voz principal, Gabriel Carvalho no baixo e Pedrinho Ribeiro na bateria (ambos também nos vocais), faziam covers personalizados de músicas de sucesso, aos quais acrescentavam um especial suíngue brasileiro, com expressivo toque pernambucano.


Certa vez, com Ana Ruth, mostrando um pouco de Lisboa a Marina, uma filha que mora na Rússia, casualmente os vimos tocando na Praça do Comércio, próxima ao cais. Com carisma, algumas vezes chegaram a reunir - e colocar pra dançar - bom número de transeuntes. Meses depois, então já com conhecimento de causa e data, assistimos a uma apresentação que fizeram num restaurante do entorno da rua Augusta. Estavam, então, muito afiados.


Mas, como falamos, o mundo dá voltas. E, numa delas, Pablo Romeu mudou-se para Roma com a esposa, retornando ocasionalmente a Portugal para atender compromissos da Caipirinha Society. (Atualmente, segundo ele, a banda está em "recesso pandêmico".) Ao mesmo tempo, fundou com outros músicos brasileiros nova banda, a Capella, com som autoral heavymetal e de admirável virtuosismo técnico. É o que se pode observar no primeiro clipe que fizeram, lançado em pleno período de pandemia.


Inspirado num single que ele realizou à distância, com músicos de diversas partes do mundo, resolvi aderir a esse processo produtivo e o convidei a fazer a direção musical de Nenhuma Igual a Você (ver ficha técnica no post anterior).


"Quando Tiago me enviou a ideia da música, já imaginei um caminho a trilhar com o arranjo", lembra Pablo Romeu. "Ele havia dito que pensava em climas diferentes para as três partes (estrofe, ponte e refrão) que a composição tem e foi isso que tentei expressar." Nas palavras de Pablo,


"A ideia foi fazer um rock leve com diversas variações de climas, porque além das ambientações dos trechos cantados, adicionei também algumas partes instrumentais para fazer o todo ficar bem coerente. Ao ouvir a música, você sente que ela prepara o ouvinte para a chegada do refrão, que finaliza com a entrada da parte instrumental indo em um outro caminho harmônico que não havia ocorrido até então. Essa parte instrumental prepara a música para uma reapresentação da introdução, que dessa vez leva direto para a ponte".

É um arranjo elaborado e que tem recebido muitos elogios. "Para que tanto a ponte quanto o refrão não viessem iguais ao que já havia sido apresentado, adicionamos backing vocal para dar um fechamento especial à música", ressalta Pablo. "Como a gravação teve que ser feita à distância, durante a pandemia", esclarece ele, "convidei três grandes amigos que têm condições de captar seus instrumentos em estúdio próprio, não havendo assim qualquer problema relacionado com o coronavírus".


Além de Nenhuma Igual a Você, gravei com Pablo e Daniel Felix outra canção, Lugar ao Sol, num belíssimo arranjo de violão de aço e piano, com a participação de uma convidada especial. Mas disso falaremos em outro momento.


Antes de mais uma volta do mundo, com certeza.


 

Onde ouvir Nenhuma Igual a Você:







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