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  • Foto do escritorTiago Araripe

Estradas do imaginário


Talasnal, aldeia de xisto na Serra de Lousã, Portugal. (Foto: Tiago Araripe)


Morar no imaginário é privilégio de grandes artistas, escritores, cineastas e poetas que, com a força de sua obra, garantiram lugar no insconsciente coletivo de todo um povo. Morar em Imaginário, no entanto, é a realidade bem mais prosaica dos habitantes de uma pequena localidade portuguesa do Concelho de Caldas da Rainha.


Tomei conhecimento de Imaginário ao acaso, por meio de uma placa de sinalização na entrada do lugarejo. Estávamos, eu e Ana Ruth, a percorrer a antiga freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, num dos recentes passeios exploratórios que fazemos para melhor conhecer a região onde moramos e na qual se sobrepõem, por muitas vezes, o Distrito de Leiria e a Província de Estremadura.


A placa Imaginário parecia evocar o encantamento que sinto ao rodar pelas estradas secundárias de Portugal: as EN (Estradas Nacionais), que serpenteiam país adentro, na maioria das vezes com pista única de dois sentidos, e os IC (Itinerários Complementares), geralmente mais retilíneos e com pista dupla para ir e vir. São boas alternativas às impecáveis auto-estradas - vias expressas de diversas pistas - não apenas por não terem pedágio (ou portagem, na nomenclatura do país), mas também por proporcionarem uma maior intimidade com a alma portuguesa, entrevista em pitorescas cidades, vilas, aldeias e casais.


Há vistas maravilhosas, lugares que fertilizam a imaginação, placas que destilam poesia.

Um exemplo é a antiga freguesia de Runa, no concelho de Torres Vedras, pela qual já tivemos a oportunidade de rodar algumas vezes a caminho da Pedras Altas, em Vialonga. É um lugarejo de cerca de mil habitantes, entrevisto por um trecho da estrada imerso na sombra das árvores que a ladeiam, tendo à direita uma velha estação de trem (comboio, como dizem em Portugal) e à esquerda o muro de uma propriedade enriquecida pela passagem dos séculos.


Placa de logradouro da Vila da Benedita, Portugal. (Foto: Ana Ruth Brito)


Há atrativos mirantes e centenários moinhos de vento, localidades incrustadas em vales ou a coroar altos montes. Ah, e existem as placas. Placas de rua, como a da foto acima; de aldeias, como A-do-Ruivo, A-da-Gorda e A-dos-Cunhados. Placas de pequenos casarios, como Casal da Cotovia, Casal da Eira da Pedra e Casal dos Sete Lenços.

Muitos meses atrás e muitos quilômetros além e ao norte, no município de Lousã e graças aos amigos Walter e Sebastiana Sandes, visitamos aldeias de xisto como a bela Talasnal, onde um conjunto de casas, reconstruídas em pedra para hospedagem de turistas, recebeu a inspiradora denominação de Montanhas de Amor. Que a foto desse lugar mágico seja mais uma pedrinha (de xisto) na construção do seu imaginário, amigo leitor, amiga leitora.

 

Veja o novo clipe Das Horas, disponível no meu canal do YouTube.



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