{ "data": [ { "event_name": "Purchase", "event_time": 1654007988, "action_source": "email", "user_data": { "em": [ "7b17fb0bd173f625b58636fb796407c22b3d16fc78302d79f0fd30c2fc2fc068" ], "ph": [ null ] }, "custom_data": { "currency": "BRL", "value": 2.99 } } ] "test_event_code:" "TEST65937" }
top of page
Foto do escritorTiago Araripe

Cinema da memória

Atualizado: 6 de nov. de 2020


Lima Duarte, em cena do filme Sargento Getúlio, de Hermano Penna, com trilha do Papa Poluição.


Vem de longe minha ligação com o cinema. Tinha quatro anos de idade quando fui levado ao Cine Moderno, no Crato, para assistir Sansão e Dalila, filme bíblico estrelado por Victor Mature e Hedy Lamarr. Fiquei, ao mesmo tempo, fascinado e aterrorizado. Na cena em que Sansão abala as colunas do palácio e o põe abaixo, achei que era o cinema que estava a desmoronar. Abri o berreiro.


Estavam plantadas ali, em algum lugar do subconsciente, as sementes da música Cabelos de Sansão e do álbum de mesmo nome.

Alguns anos depois, vieram as matinês de sábado no Cine Cassino, com sessões duplas: o episódio de um seriado, seguido de um longa-metragem. Entre os seriados, lembro de A vingança de El Látego, cujo personagem principal era um herói mascarado muito hábil no manejo de um longo chicote. Como rezava a estratégia de fidelizar os espectadores da época, cada episódio era interrompido num momento de grande perigo para os mocinhos. A meninada saía do cinema doida pra saber como eles se safariam da situação e já torcendo para que chegasse logo o sábado seguinte - e a sequência do seriado. Afinal, o filme principal pouco importava. E como você já deve ter deduzido, não tinha sido inventada ainda a expressão maratonar. Se havia, com certeza absoluta não era aplicada aos seriados que eu via no Cine Cassino.


O terceiro cinema existente na cidade era o Cine Educadora - e que maravilha lembrar de um Crato com três cinemas, anos antes da televisão chegar ao Cariri e a séculos do advento da internet.


Pequenos milagres aconteciam, como a exibição de filmes como 8 e meio, que vi no Educadora. Embora sem real noção de quem era Federico Fellini, o filme me encantou. Recordo também de outros títulos dignos de admiração. Entre eles, O ente querido, do inglês Tony Richardson, faroestes clássicos como Matar ou morrer (High Noon), de Fred Zinnermann, e os filmes de Richard Lester estrelados pelos Beatles: Os reis do iê-iê-iê (fajuto nome brasileiro para A Hard Day's Night) e Help!


Como alguns já sabem, o Cine Cassino está devidamente homenageado na faixa de mesmo nome, no álbum Cabelos de Sansão. Os Beatles lá estão também, numa colagem literal de gravação original de Strawberry Fields Forever e em outros aspectos mais subjetivos do disco.


Mas não foi apenas assim que o cinema começou a fazer parte do meu trabalho musical. Em letras como a própria Cine Cassino e Redemoinho, há cortes inspirados nas montagens cinematográficas.


Já em São Paulo, por meio de José Luiz Penna e do seu primo Hermano Penna, cineasta nascido no Crato, vieram as participações em trilhas de filmes. Antes mesmo do surgimento do grupo Papa Poluição, tive pequena participação, com Zé Luiz, Rosa Costa e o seu irmão Paulinho (o saudoso Paulo Costta), entre outros músicos, da trilha de um curta de Jorge Bodanzky e Hermano, Caminhos de Valderez.


Depois viriam os filmes de Hermano Penna, a começar pelo belo documentário A mulher no cangaço, seguido pelo premiado Sargento Getúlio. Mais tarde, quando morando novamente no Recife, foi a vez de Aos ventos que virão, quando Zé Luiz e eu assinamos a trilha com a participação de dois músicos pernambucanos: Cláudio Rabeca e Pierre Leite. E houve, ainda, a contribuição ao longa Cine Tapuia, de Rosemberg Cariry, por meio da música Diogo quer brincar (parceria com Manassés de Souza).


Quando do convite para trilhar Sargento Getúlio, Zé Luiz, Paulo Costta e eu já integrávamos o Papa Poluição, juntamente com Xico Carlos, Beto Carrera e Cid Campos.


Assistindo o copião na moviola da Blimp Filmes, lembro que ali cheguei com o receio de que a adaptação às telas do livro de João Ubaldo Ribeiro, do qual eu tanto gostara, não correspondesse à força narrativa do escritor baiano. Receio logo esquecido: as tensões e contradições do personagem de Lima Duarte estavam todas ali, muito bem roteirizadas, fotografadas e interpretadas.

Durante a prévia, e de acordo com as observações do diretor, Zé Luiz anotou as diretrizes para a realização da trilha. Tínhamos pouco tempo para compor e gravar. Então distribuímos as composições entre Zé Luiz, eu e Paulinho (Cid Campos chegou a criar um breve tema instrumental, também). E logo estávamos no Estúdio Eldorado, gravando a parte que cabia ao grupo e acompanhando a execução dos arranjos de Mauro Giorgetti. Nesta fase, foram dois dias intensos, com jornadas de 12 horas de gravação, num dos primeiros estúdios de São Paulo com mesa de 16 canais.


O plano era lançar um álbum com a trilha, tão logo o filme fosse distribuído. No entanto, transformar a bitola original da película em 35mm foi uma batalha que custou cerca de cinco anos até se concretizar. Só então, Sargento Getúlio foi inscrito em diversos festivais de cinema e passou a acumular todos os merecidos prêmios.


Era o momento estratégico de o álbum vir à tona. Entretanto, o principal tape havia sido apagado para reutilização da fita de 16 pistas, que era muito cara e não tivemos como comprar do estúdio. Coisas da vida pré-digital. E dos tempos heróicos (e lisos) de então.


Quando, aos quatro anos, imaginei Sansão pondo abaixo o Cine Moderno, estava a anos luz de supor que, um dia, estas novas cenas surgiriam da poeira.


 

Você já viu o clipe Das Horas, gravado na Mata Municipal de Bombarral (PT) e com participação de Clarissa Araripe? Assista aqui e agora,






Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page