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  • Foto do escritorTiago Araripe

Abracadabra: De onde vem, para que serve?


Márcio Catunda, durante o lançamento de um dos seus livros.



Hoje passo a palavra ao poeta, escritor e diplomata Márcio Catunda, amigo de longa data. Comentando uma postagem que fez no seu perfil do Facebook, onde compartilhou o clipe de Abracadabra (Novas Manhãs Que Virão), ele escreveu, no dia 4 de julho passado:

"Ontem mesmo usei a palavra abracadabra para resolver um assunto e funcionou. Uma hora depois disso, encontrei o seu vídeo com a música. O grande Jung chamava isso de sincronicidade ou sincronismo. É o que se costuma denominar coincidência. Que pode ser conhecimento com ciência".

A seguir, o texto que ele enviou ao blog, a meu pedido.

 

Perde-se na noite dos tempos a origem da palavra abracadabra. Ganha-se, no entanto, em constatar que o termo atravessou diferentes civilizações antigas, como sói acontecer com as culturas essenciais que fluem ao sabor da transumância das sociedades através do tempo. Segundo a enciclopédia americana da Scholastic Library, edição de 2005, volume 3, página 569, o termo provém do idioma bébere. Outras fontes atestam que poderia provir das línguas hebraica, aramaica, celta ou copta.


Na primeira hipótese, fora gerada pela conjunção sintagmática de Ab (Pai), Ruach (Filho) e Daba (Espírito Santo) ou pela sentença exorcizante Abrai seda brai (significando “Fora, mau espírito, fora!”) ou ainda pelo enunciado mágico Aberah KeDabar (“Irei criando conforme falo”). Outra possibilidade aventa sua gênese dos vocábulos Habrachah, que significa bênção, e Davar, que quer dizer palavra. A segunda hipótese supõe que o termo seria oriundo da expressão aramaica Avrah Kahdabra, isto é, “Eu crio enquanto falo”.


A terceira opção aponta para o seu surgimento pela união das palavras celtas Abra (Deus) e Cad (santo).


A quarta possibilidade de sua origem é a palavra gnóstica Abraxas que na língua copta evoca a fórmula mágica “não me firas”.


Os historiadores relatam que o médico romano Quintus Serenus Sammonicus teria curado o imperador Caracala de malária, usando a palavra abracadabra numa receita mágica, quando tal enfermidade afetou a população de Roma no ano 450.

Serenus era discípulo de Basílides, fundador da seita dos Basilides, de sincretismo cristão-pitagórico, em Alexandria. Com seu mestre teria aprendido a cultuar o deus ABRAX e, por seu intermédio, invocar a ajuda de espíritos benéficos contra doenças e infortúnios. O procedimento consistia em usar a palavra como um talismã, ou seja: escrevê-la num papiro, em forma triangular, e usar esse objeto como escudo, em contato com o próprio corpo, durante nove dias. Esse método livraria as pessoas do “mau ar” da malária e de suas subsequentes febres.


Vem das remotas tradições do Oriente místico a narrativa das Mil e uma noites, pela qual a sábia mulher Shéhérazade entretém, todas as noites, seu rancoroso esposo Shâriyar, sultão da Índia. Ouvindo todas as noites os maravilhosos contos de sua esposa, Shâriyar desiste, cada noite, do propósito de matar as mulheres com as quais se casasse.


Uma das fábulas narradas por Shéhérazade a seu marido é a aventura de Aladim, o jovem que encontra numa caverna uma lâmpada mágica, da qual emerge um gênio, que lhe pode proporcionar coisas quase impossíveis, como uma imensa riqueza e um casamento com a filha do imperador da China. A palavra abracadabra estaria ligada a esse fenômeno sobrenatural.

A ideia de que abracadabra é uma palavra de encantamento místico, capaz de oferecer soluções para problemas aparentemente insolúveis, nos remete à tese do poder da palavra como veículo de trazer à tona a coisa enunciada.


Qualquer que seja a sua origem, o certo é que ela esteve presente em diferentes momentos da história humana e as tradições antigas dão conta de sua satisfatória utilização em benefício da humanidade.


Márcio Catunda

Rio de Janeiro, 7 de julho de 2020.


 

Márcio Catunda Ferreira Gomes 22.05.1957 Fortaleza - Ceará.

Tem quarenta livros publicados, entre volumes de poesia e prosa. Livros premiados: "Escombros e Reconstruções" (2011), Prêmio Vinicius de Moraes, da Academia Carioca de Letras; e "Viagens Introspectivas" (2013), Prêmio Antonio Olinto, da União Brasileira de Escritores. É sócio fundador da Associação Nacional de Escritores, de Brasília, e membro do Pen Clube do Brasil. Sócio correspondente da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo e membro efetivo da Academia de Letras do Brasil (Brasília), da União Brasileira de Escritores (UBE-Rio de Janeiro) e da Associação de Poetas do Rio de Janeiro (APPERJ). Editou diversos livros de poesia, de prosa (alguns dos quais escritos diretamente no idioma espanhol), bem como discos de poesia musicada. Trabalhou, na carreira diplomática, em Lima, Genebra, Sófía, São Domingos, Lisboa, Acra, Madrid e Argel. Escreve em diferentes periódicos brasileiros.

 
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