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Foto do escritorTiago Araripe

Quando o assunto é Copa do Mundo, sou apenas o cantor.



Quando se trata de futebol, sou um torcedor sazonal. De quatro em quatro anos, lá estou diante da televisão, acompanhando os jogos da Seleção Brasileira. De Copa em Copa, procuro me inteirar da possível estratégia do técnico da vez e da escalação dos jogadores, identificando os veteranos e conhecendo os novos craques. É quando examino também o potencial ofensivo das outras seleções, imaginado como o Brasil fará para ultrapassar essa ou aquela de maior competitividade. Este ano não seria diferente, não estivesse eu morando em Portugal. Aqui, Cristiano Ronaldo é uma lenda viva. As pessoas conhecem e admiram sua disciplina e sobriedade, sua liderança junto à equipa, como se fala no bom português luso. Passei a admirar também o jogador e, consequentemente, a torcer pela Seleção Portuguesa.

A minha final da Copa dos sonhos, claro, seria Brasil x Portugal. Por quem eu torceria, então?

Pelo bom futebol. Que vencesse o melhor desempenho. Que houvesse espírito de luta, persistência, bom trabalho coletivo de ambas as equipes. Mas também iniciativas individuais com o poder de decidir a vitória, de um lado ou do outro. Que o futebol de qualidade superasse a apelação dos empurrões e chutões na canela, mas se as faltas acontecessem, que viesse pelo menos um golaço de cobrança, como ainda não vi nesta Copa e craques como Roberto Carlos faziam tão bem. A verdade é que não sei torcer contra. Nem sempre foi assim, mas com a idade passei a me sentir melhor torcendo a favor. E não apenas nos jogos de futebol. Entretanto, como aqui o assunto é esse, dou o exemplo da Argentina. A maioria dos brasileiros que conheço - e até alguns amigos portugueses - torcem contra a Argentina, arqui-rival da Seleção Brasileira desde muitas copas e contrapontos (quem teria sido maior jogador, Pelé ou Maradona?). A persistência de Messi incomoda, A Argentina ter chegado às semifinais incomoda. E, além dos embates no gramado, os argentinos incomodam. Mas, confesso: não consigo torcer contra a Argentina. Nem contra a Croácia que nos venceu nos pênaltis. Também, em outra semifinal, não torci contra a Alemanha, mesmo depois daquele vergonhoso 7 x 1 que tanto queremos esquecer.

Meu barato é torcer a favor. A favor dos países bons de bola, a favor das pessoas, a favor da vida.

Barradas minhas favoritas nas quartas de final, a Seleção Argentina é a chance de os latino-americanos mostrarem ao mundo seu valor e sua garra. Então pra frente, hermanos argentinos. E que os brasileiros me perdoem. Afinal, vindo de um país em que todos entendem tanto de futebol, sou apenas o cantor.



Tiago Araripe Bombarral, PT, 13 de dezembro de 2022 (antes da semifinal Argentina x Croácia)



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