Acervo do Cine Cassino em novo endereço do Crato. (Fotos: Augusto Pessoa/Hélio Filho)
Não raro, sonho com traçados urbanos que sobrepõem diferentes cidades onde vivi. Na Praça de Casa Forte, no Recife, indico a minha mãe o melhor caminho para chegar à Avenida Santos Dumont, em Fortaleza. Digo a ela que, se seguir pela direita como pretendia, estará indo ao Bairro de Fátima, também na capital cearense. Assim sou brindado com um de seus melhores sorrisos. Mas praças, ruas e avenidas não são os mesmos da vida em vigília. São logradouros de sonho, com configurações próprias. A Praça de Casa Forte tem um castelo, e a rua que minha mãe pensava ser a via mais direta para a Avenida Santos Dumont é de paralelepípedos, ladeada por sobrados semelhantes na forma e diferentes no colorido.
A geometria onírica dos quarteirões é diferente. Há longas ruas que revisito ao tentar encurtar caminho para algum lugar indefinido.
Em São Paulo, por exemplo, as distâncias são infinitamente maiores – e a Estrada das Cachoeiras, onde vivi abismos e descobertas na periferia da megalópole, é quase o fim do mundo. Aquele prosaico condomínio de apartamentos de quatro andares sem elevador, que me abrigou durante anos, passa a ser um prédio colossal, num cenário pós-apocalíptico. Como chegar até ali? Como compartilhar com alguém aquele apartamento de dois quartos?
Cada cidade tem o mesmo nome de origem, mas possui outra identidade. É uma cidade de sonho, povoada por pessoas de sonho – muitas delas completamente desconhecidas.
O que me dizem tais sobreposições de lugares e memórias? Que rumo me apontam? Penso ter algumas pistas, mas ainda não elucidei o enigma. E então recebo uma mensagem do amigo Alemberg Quindins, com fotos surpreendentes. Ele transportou para sua casa cratense, no Granjeiro, o que o Cine Cassino tinha de mais icônico: os cartazes de filmes no saguão de entrada. O poder público não preservou esse ícone da cultura caririense, que mereceria ser tombado como patrimônio histórico pela sua arquitetura e singularidade. Foi preciso um cidadão com visão de futuro resgatar o acervo daquele belo cinema – tema de uma das canções do meu primeiro álbum, Cabelos de Sansão. Palmas pra Alemberg.
Não por acaso, ele idealizou a Fundação Casa Grande, na também caririense cidade de Nova Olinda. Prova viva de que a educação e a cultura, da mesma forma que a preservação da nossa memória, podem ser reinventadas.
Agora chegamos ao Cine Cassino pela casa de Alemberg no Granjeiro. E isso não é sonho.
Alemberg chama de “Morada de Conteúdo” aos projetos domiciliares como o da sua casa, aqui mostrada numa visão de conjunto para contextualizar onde o acervo do Cine Cassino está instalado.
ABERTURA DO ANO MUSICAL
Um voo sonoro e poético sobre este combalido Planeta Azul em que vivemos abre nossas produções musicais de 2022.
É Pequeno Planador, canção de esperança e pedido de respeito pela Natureza, já nas plataformas de streaming em dois formatos: com 5min18 e 3min21.
Se ouvir e gostar, peço que dê seu like e faça a inscrição no canal. Assim ajuda o planador a voar mais longe.
FICHA TÉCNICA
Tiago Araripe: composição, voz
Anderson Mariano: arranjo, violão e guitarra elétrica rítmica José Newton Filho: guitarra elétrica solo
Fernando Alves: flugelhorn
Felipe de Alencar: violoncelo
Helinho Medeiros: teclado
Chico Santana: percussões (bombo, moringa, guira, gongo, sinos)
Captação da percussão: Caio Bertazzoli
Edição, desenho sonoro e mixagem: José Newton Filho e Anderson Mariano
Masterização: José Newton Filho
Capa: Marcelo Barreto
Gravado em setembro de 2021, em João Pessoa, BR (instrumentos) e Bombarral, PT (voz).
Pra mais músicas e vídeos, acesse nossas redes sociais e plataformas de streaming.
Outras novidades estão a caminho.
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